::Ford Maverick 2.3L Aspro::



Existe uma linha muito tênue entre a razão e a emoção quando se fala de automóveis de uso diário. Por mais sensato que seja o uso de um veículo com 1.600cm³ de deslocamento, para muitos que estão a ler este artigo seria uma verdadeira imbecilidade deixar de lado toda a potência monstruosa de seus veículos 2.0, 2.5 e até 3.0L em detrimento de um carro mais simples, com menor deslocamento e que "ande" menos.

Tudo bem utilizar carros comuns, de produção atual, ou mesmo aquele carrinho velho baleado... mas um clássico para uso diário?! Rogério Moreno faz todos os dias seu trajeto de casa para o trabalho a bordo de um Maverick 1976 e não se sente nem um pouco incomodado com isso, pelo contrário.




Tudo começou com a aquisição de um Maverick amarelo em péssimo estado, e que que despertou em Rogério o desejo de montar um clássico nacional com a aparência da mundialmente famosa Eleanor. Infelizmente algumas das felicidades da vida não caminham lado a lado, e o rompimento de um casamento e os custos que a reestruturação de uma vida compõem fez com que um motor V8 ganhado de seu irmão tivesse de ser vendido antes da instalação, junto com o carro.



Quis a vida que Rogério tivesse seu sonho finalmente realizado - de forma mais humilde, mas ainda assim realizado.
Encontrei ele (o Maverick) na cidade de São Borja no Rio Grande do Sul. Um médico cardiologista que estava de mudança para o RJ tinha montado o carro meio que por brincadeira com os amigos. Após vídeos e várias fotos recebidas, embarquei rumo a São Borja. Chegando lá, paguei e saí com o Maverick percorrendo 1.300 km de estrada até São Paulo, ouvindo o CD do Creedence Clearwater Revival - segundo o ex-proprietário, Rollin' On A River era a música preferida do carro.



Antes de começar a utilizar o Maverick diariamente, Rogério chegou a comprar um Fiat Punto completo para locomoção, mas não conseguiu se adaptar. Com pouco mais de um ano, o carro foi banido da garagem onde habitavam ainda um Fusca e dois Opalas. Seria simples se o trabalho de Rogério fosse próximo ou se o horário fosse flexível, mas não é. O cara chega a andar 400 km por semana com o carro, pegando trânsito, engarrafamento, encarando o solo lunar da cidade de São Paulo...




Quando o Maveco ainda rodava com seu motor original, queimava muito óleo e fumava demais. Chegou a ganhar o apelido de Bob (por causa do Marley). O motor antigo foi descartado e um novo 2.3L OHC a álcool foi instalado no lugar, com algumas adaptações para tornar a condução mais agradável. Completamente revisado, recebeu ventoinha elétrica, uma bobina de ignição do VW Gol modelo MI com cabos de vela em silicone e um novo carburador de corpo duplo do Escort XR3. Tudo em perfeito funcionamento e alimentado corretamente.



O câmbio original da versão de quatro cilindros é sofrível e as relações longas atrapalham no uso diário. Nesse caso, ainda estava com a segunda marcha escapando. O recondicionamento seria bastante dispendioso. Rogério viu nas trilhas uma solução inteligente e sensata: comprou uma flange de adaptação de câmbio de Chevette (basicamente o mesmo do Opala 4 cilindros) para o motor 2.3L e adquiriu um câmbio revisado de Chevette com cinco marchas. As peças se encaixaram como luva e tornaram a condução muito mais prazerosa. A tocada em pista também ficou mais fácil devido à relação de marchas que ajuda bastante nas saídas de curva. Esta é a mesma receita utilizada por jipeiros que utilizam este mesmo motor e buscam um câmbio melhorado. O consumo médio é de 4,5 a 5,0 km/l de álcool, que certamente seria maior em um V8.



O conjunto de embreagem é do GM e o trambulador possui engate rápido, o que reduz o curso das trocas. O diferencial permanece com relação de 3,54:1 e não foi instalado nenhum tipo de blocante, o que tornaria o uso diário mais complicado. A suspensão permanece praticamente original, apenas com buchas dianteiras trocadas por outras confeccionadas em PU e amortecedores de dupla ação. As rodas são réplicas das clássicas Halibrand (de GT40) de medidas 7,5x17", calçadas com pneus 225/50-17" na dianteira e 9,5x17", com pneus 235/55-17" na traseira. Os freios permanecem originais com disco na dianteira e tambor na traseira, mas sem hidrovácuo, o que pede um pouco de sensibilidade por parte do piloto/motorista para a modulação no pé para evitar o travamento das rodas. Coisas de carro antigo.




Os bancos dianteiros foram substituidos por um par de bancos do Citröen Picasso revestidos em couro, enquanto o traseiro permaneceu original. Para aumentar a segurança, os cintos de segurança dianteiros deixaram de ser apenas abdominais e agora são retráteis de três pontas. O charme fica por conta do belo volante Walrod modelo XK herdado do Maverick GT. Por ser um carro de uso diário, algumas concessões eletrônicas tiveram que ser feitas. Um rádio moderno com MP3 foi instalado em conjunto com um par de triaxiais no tampão traseiro e um par de coaxiais próximo aos pedais.




Hoje nem o Fusca, nem os Opalas e nenhum outro carro atual faz compania ao Ford Maverick cinza com faixas pretas montado em rodas réplicas das clássicas Halibrand. O uso do Maverick estendeu-se além do uso diário e invadiu também as pistas, fazendo com que Rogério tivesse um maior contato com as corridas de regularidade de clássicos e track days. A idéia agora é capitalizar-se para a aquisição de um modelo equilibrado, com motor forte, bom histórico nas pistas e uma boa base para upgrades. O BMW E36 M3 é a opção mais sonhada.



Com ele em casa, o Maverick vai ter seu merecido descanso e um transplante de coração, recebendo um Ford Racing 302" V8 com câmbio Tremec de 5 velocidades, para que as corridas de clássicos possam ser vencidas em menos tempo. O que eu duvido é que mesmo após o transplante, o Maverick fique muito tempo parado.

Crédito das fotos: Rodrigo Romão

Matéria postada originalmente no Jalopnik

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